segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

5 Perguntas para JAL

A biografia de José Alberto Lovetro, o JAL, fala por ele: são tantos trabalhos publicados em veículos de comunicação de circulação nacional e tantos prêmios ao longo de mais de 35 anos de carreira que ficaria enfadonho enumerar todos aqui.

JAL não é reconhecido apenas como artista; é um ativista que há décadas vem lutando pelo quadrinho nacional, notadamente por meio da Associação dos Cartunistas do Brasil, entidade que ajudou a fundar. Juntamente com o cartunista e amigo Gualberto Costa, criou uma das principais premiações dos quadrinhos no Brasil, o HQMIX, que já tem sua 21ª edição marcada para julho deste ano.

JAL responde as 5 Perguntas do Papo de Quadrinho desta semana:

1) De que forma as premiações como Ângelo Agostini, HQMIX e, mais recentemente o Bigorna, ajudam a desenvolver o mercado de quadrinhos no geral e a produção nacional em particular?
O primeiro Troféu criado foi o Ângelo Agostini ainda quando fundamos a AQC-SP em 1984. Depois houve desentendimentos na Associação e após as primeiras eleições em 1985 para a nova direção, ela não conseguiu ter mais eleições e seguir seu estatuto. O Worney seguiu então levando adiante o Troféu até os dias de hoje. A ACB surgiu como uma associação nacional para dar suporte à representação em todo o Brasil e levantar as discussões unindo as diversas associações regionais. Foi base para que pudéssemos criar o Troféu HQMIX já em 1988 quando atuávamos no programa TV MIX da TV Gazeta-SP com o Serginho Groisman e a Astrid Fontenele. Atualmente chegou o Troféu Bigorna ligado ao site de mesmo nome.
Acho que quanto mais prêmios melhor, pois fortalece na mídia e para todos que existem muitos profissionais trabalhando no humor gráfico e em quadrinhos no Brasil. Isso é mais importante do que ganhar um troféu em si. Guardando as devidas proporções, o que seria do cinema americano sem um Oscar promovendo as produções e seus profissionais? Claro que não teríamos mais gente indo ao cinema enquanto podem ter em casa uma tela gigante com som irado, um bom dvd ou canal pago e uma poltrona.


2) Você acredita que ao incluir HQs no PNBE (Programa Nacional de Biblioteca da Escola) o Governo Federal está contribuindo para o desenvolvimento do quadrinho nacional? De que outras formas o poder público poderia contribuir?
Claro que é algo muito importante esse reconhecimento. Lutamos por isso faz muitas gerações. Antes tarde do que nunca. O quadrinho é a linguagem ideal para conseguir alguma concentração da criança e do jovem para a leitura. Acho que, além disso, é preciso uma maior discussão nas Câmaras Setoriais de Política Cultural incluindo essa área das artes visuais. Atualmente somos uma fração da Câmara Setorial de Artes Visuais que trata quase que completamente de pintura. Por essa razão, estamos nos reunindo nos últimos anos, entre associações de classe e entidades afins, para lutar pela nossa Câmara Setorial que englobe quadrinhos, ilustração, charges, cartuns e animações. O Sergio Mamberti acaba de assumir a Funarte e deve nos abrir uma porta para que os profissionais da área possam discutir a política cultural que desejam para seu setor.
Além disso há um projeto de lei no tramitando no Congresso que pede a obrigatoriedade de 20% de publicação obrigatória para a produção de quadrinhos brasileiros. Esse tipo de coisa não pega, pois existe a lei de mercado que se impõe sobre essa obrigatoriedade, mas esse projeto tem algo que pode dar certo que é o incentivo fiscal para quem publicar HQ nacional. Aí tanto os desenhistas como as editoras podem entrar em acordo unindo as pontas da produção.
Vamos ver se esse ano a coisa anda.

3) Muitos desenhistas brasileiros vêm conquistando sucesso nos Estados Unidos nas duas maiores editoras de lá, Marvel e DC. Quais os aspectos positivos e negativos desta "exportação" de talentos?
O aspecto positivo é que a qualidade do desenhista brasileiro é muito boa e exporta artistas como exportamos jogadores de futebol.
A parte ruim é que esses desenhistas poderiam produzir muito para o mercado brasileiro se editores e entidades valorizassem mais essa linguagem como valorizam o futebol.

4) O que você pensa da reserva de mercado, tão arduamente defendida pelos quadrinhistas nos anos 50 e 60? Funcionaria naquela época? Funcionaria nos dias de hoje?
Como disse antes, acho que lei de obrigatoriedade não funciona mais. Não funcionou com a antiga obrigatoriedade de exibirem curtas brasileiros antes dos longas estrangeiros nos cinemas. As distribuidoras começaram a comprar ou produzir qualquer coisa só pra cumprir a lei e foi uma catástrofe. Ao invés de levantarmos o mercado para o cinema nacional, as pessoas odiavam ver aqueles filmetes e começaram a falar que o cinema nacional era uma merda mesmo. Funcionou ao contrário e levamos muitos anos antes de voltarmos a ter um melhor conceito do público de nosso país.
Com os quadrinhos, é claro que a editora vai tentar completar a cota de obrigatoriedade com qualquer coisa que tiver à mão. As revistas não venderão e as editoras poderão também dizer que quadrinho nacional dá prejuízo. O melhor são leis de incentivo que agradam às editoras e ajudam aos artistas com mais opções de trabalho. Havendo incentivo, é bem possível que abram mais editoras apenas para publicar quadrinho nacional. Aí temos uma chance de ganhar algum público que é o que fará aquela revista continuar no mercado.
Hoje temos ótimos desenhistas para suprir o mercado. Estamos já conseguindo também melhorar nos roteiros que sempre foram uma pedra no sapato para nossa produção.
Já brigamos muito por leis protecionistas, mas com a internet tudo virou busca de público em qualquer parte do mundo.

Quais seus projetos em quadrinhos para 2009?
Esse ano será muito forte para os quadrinhos e o humor gráfico. Quero colocar no ar um novo site de humor interativo baseado no meu fotoblog, mas com muito mais opções de interatividade. Estou terminando de escrever o livro com a professora Sonia Luyten sobre a importância dos quadrinhos na área educacional. No HQMIX estamos fazendo um ajuste fino nos prêmios e na votação nacional que já atingiu 2.000 votantes profissionais ou estudiosos. Nosso site http://www.hqmix.com.br/ estará sendo atualizado com maior frequência.
Também estamos ajudando a organizar um grande evento de animê/mangá para julho que trará grandes surpresas para os amantes da área e também de fora. Além disso, pretendo publicar um livro de uma série que venho publicando na Europa chamada "Pequenos Pecados", meio ao estilo Feiffer.
Para ver alguns dos cartuns do JAL, visite http://jalcartoon.nafoto.net/

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