terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Artigo: Será que quem gosta de Alan Múúúúú também gosta de heroizinho azul de pinto mole à mostra?

Por Marconi Lapada
(ilustração de Matozo Neto)

Nota do Editor: este artigo foi enviado ao Papo de Quadrinho como resposta à coluna DataTársis Informa publicada no dia 4 de fevereiro e não reflete necessariamente a opinião deste blog ou de seu editor.

A bilionária indústria de quadrinhos dos Estados Unidos se move à base de propaganda incessante e cooptação de bobos úteis a seus planos de dominação cultural. Aqui no Brasil, essa indústria encontrou um terreno adubado e fértil para engordar sua conta bancária. Ou seja, não faltam bobos alegres brasucas para servirem de moleques de recados aos cartolas das grandes editoras.

O mais hilariante é que essas figurinhas tragicômicas, apesar de estarem sendo usadas como massa de manobra para arrebanharem mais compradores para a superada HQ gringa, ainda se arrogam de saberem tudo sobre quadrinhos. Leia-se: o "tudo" que sabem lhes foi transmitido por revistas "chapa branca".

Convencionou-se chamar essa manada de bobos-alegres de "alopradinhos" ou, como alguns se auto-classificam, "nerds".

A nerdaiada, no momento, está em alvoroço em decorrência das propagandas repassadas por uma mídia que se vende fácil a quem pagar mais. Os bobões aloprados Marvel e DC estão em frenesi na espera de mais um filmezinho insosso de super-heróis, agora baseado (?!) no mirabolante resultado de uma diarréia mental expelida pela mente pervertida e nublada por drogas do alucinado Alan Moore. Estou falando daquela droga impressa chamada Washman ou Atchimem, ou coisa que o valha. Ou seja, apenas um X-Men semi-pornográfico com toques meio extravagantes. Quem tem bom senso, bom gosto, não é chegado a ficar de contemplação a pênis azul à mostra, não gosta de ver quadrinhos com comissários de polícia pelados, agora vai ter de passar mal com o alarido que os aloprados farão antes e depois das idéias desvairadas daquele piolhento inglês desfilarem pela telona dos cinemas.

A vantagem para mim e alguns amigos com pensamento livre e idéias próprias é a de não cairmos nessa armadilha mercadológica e não assistirmos ao mais novo caça-níqueis computadorizado. Isto é, não cairemos na tolice de dar nosso suado e mirrado dinheiro para ir a um cinema ver outro besteirol da indústria dos comics. E melhor ainda, não teremos o desagrado de ver o pinto azul do heroizinho do Alan Moore na forma humana e tridimensional, junto com mais um grupelho de bestalhões fantasiados.

Quem deverá sentir turgescência com essa palermice cinematográfica são os nerds aloprados, os mesmos bobões extasiados de mentes infanto-juvenis que hoje bajulam e adulam o barbudo inglês de aspecto sebáceo. Também deverão estar presentes e exultantes na sala de projeção alguns cabeleireiros, maquiadores, estilistas, e talvez também fãs da Xuxa. E, por inferência simples, aposto que a alguns dias do lançamento, acampará na porta do cinema um certo bobalhão "escritor" de determinado artigo ridículo e idiota, onde não apenas soltou a franga, mas o galinheiro inteiro de elogios delirantes e imorais ao Rasputin dos quadrinhos.

Acontece que, toda essa idolatria burra e depravada é injustificada. Os aloprados dão importância demais àquele espantalho de urubu. O que ele faz hoje, brasileiros já fizeram com décadas de antecedência. Quadrinho adulto no Brasil existe desde os tempos do império, de autoria de Ângelo Agostini, quando lançou a primeira heroína erótica do mundo, a Iniaia, mostrando-se sempre nua e provocando os homens. Personagem antigo, horripilante e adulto, o Garra Cinzenta é brasileiro, dos anos 30. A sacanagem já corria solta nos anos 50 e 60, com Carlos Zéfiro e seus catecismos. Nos anos 70, Emir Ribeiro afrontava a censura militar com sua sensual Velta, tendo como inimiga a traveca espacial Doroti, nas páginas de um jornal de colégio.

Mas o rebanho não sabe nada disso, ou finge não saber. Só tem olhos para Marvel e DC, ou para Alan Moore. Quando é o barbudo bretão que bota heróis pelados de pinto azul ou travestis se masturbando numa história em quadrinhos, é elogiado como supra-sumo da genialidade, da inovação, da ousadia, do tapa na cara do sistema certinho dos comics. A ignorância, o preconceito e o ódio que os aloprados sentem por seu próprio país os cega para o óbvio e para os fatos comprovados de que artistas brasileiros já ousavam há bem mais tempo que Alan Múúúúú. Mas, sendo do Brasil, essas primazias são esquecidas, ignoradas ou ridicularizadas. Isso porque brasileiro sempre se sentiu pequeno diante dos estrangeiros e nasceu com aquela doença provinciana e servil da vassalagem aguda. Ou como já disseram pela net: "brasileiro tem tendência a ser capacho de estrangeiro".

Basta a mídia colocar o barbudo sebento no pedestal e lá vai a nerdaiada se ajoelhar, rezar de mãos postas para o céu e, se brincar, ainda se flagelam no concreto em imolação ao deus piolhento estrangeiro. Por quê? Porque ele vem da metrópole, do primeiro mundo, da fonte de toda a mídia, e por isso tem privilégio e pode se dar o luxo de segregar sua diarréia mais liquefeita e pútrida, que a manada brasileira vai sempre dizer amém aos berros de "É o máximo!" ou "É linda, maravilhosa e genial!".

Alan Moore, então, não é mais que um sujeito excessivamente super-valorizado por uma cambada estúpida manipulada e sem vontade própria.

Os quadrinhos não perderam a inocência com esse cara suja da Inglaterra. O terror adulto brasileiro de Shimamoto, de R. F. Lucchetti, de Nico Rosso, de Mozart Couto, de Watson e tantos outros já faziam a cabeça das massas bem antes. Todavia, o produto da província sempre passou a quilômetros dos olhos com viseiras nas laterais dessa jumentada tiete descerebrada. Essa turba é igual àqueles outros asnos que ficam ao relento no meio da rua, embaixo das sacadas de hotéis, esperando ansiosamente que o astro estrangeiro bote por um microssegundo a cara na janela, para depois explodir em delírio, se descabelando, pulando num pé só e caindo de bruços no asfalto, em convulsões esmunhecadas e aos berros: - Meu ídolo olhou para mim. Ai, ai, ai, ui, ui, ui. Estou feliz...

Os deuses gringos podem praticar crimes, consumir drogas, dar péssimos exemplos, mas o alopradinhos sempre verão quaisquer ações destes como excentricidades, atitudes ousadas, lindas, admiráveis, e geniais. Ou seja, arranjaram outro nome para viciado e toxicômano.

Isso nos leva a uma inquietante conclusão: os alopradinhos não se importam com a obra, mas somente com a deificação e a adulação doentia e desmedida. Quem vive em eterno estado de servilismo é assim, está sempre de cabeça baixa, de mãos postas esperando o deus deles dar nem que seja uma olhadinha para seu lado. Mas, nos quadrinhos, os deuses desse gado burro nem precisam olhar, bastam existir... Fico imaginando o Alan Moore aqui, na frente dos aloprados. Iam dar uma cheirada bem fungada e aspirante nos sovacos dele. Isso sendo bem leve na previsão, porque acho que iam cheirar outras partes.

Mas, como diz a regra da bajulação, quem não fizer parte do gado aloprado, não embarcando nessa salivação de ovo sem propósito, é qualificado de "chato", "invejoso", "retrógrado", "xenófobo" e até "preconceituoso". Depois, o próximo passo é fazer igual à propaganda nazista: repetir tanto a mentira que está alojada em suas cabeças que esta passa a ser a verdade absoluta e inquestionável.

Asilo, hospício e clínicas de desintoxicação cerebral para esses aloprados.

Falei.

Marconi Lapada é fundador da CQB – Central de Quadrinhos Brasileiros

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